terça-feira, 20 de maio de 2008

Cuidado com o oba-oba

Trocas de idéias sobre investimentos proliferam na internet. CVM diz que investidor deve ter cautela ao avaliar dicas. Com a expansão do sistema de negociação de ações via internet — o home broker —, cresceu também o número de fóruns e comunidades no mundo virtual que discutem estratégias de investimentos. Em grupos cujo acesso depende da autorização de um moderador ou de um cadastro em corretora é possível trocar experiências, comentar oscilações de papéis, fundamentos de empresas, falar sobre interpretações de gráficos e até pedir orientações. Tudo gratuitamente, na base da camaradagem. Com 1.376 associados e quase 71 mil mensagens trocadas, o grupo "Equipe de Investimentos" dá boas vindas ao usuário com uma frase atribuída ao megainvestidor Warren Buffet: "O mercado, como Deus, ajuda aqueles que se ajudam". De acordo com Denis Prates, um dos fundadores, é este o clima que impera: — Muita gente entra querendo se informar sobre cursos e livros. De maneira geral, os novos participantes são aprendizes e procuramos esclarecer as dúvidas — conta, ressaltando que nenhum dos fundadores tem lucro com as recomendações. — Nossa função não é ser fonte primária de informação, e sim uma ferramenta a mais na tomada de decisão — diz ele, que administra uma empresa. Comunidades excluem maus usuários das discussões - Especializado em análises gráficas, o fórum da consultoria Leandro & Stormer tem dez mil visitas por dia. Ao todo, são 40 mil cadastrados, que discorrem sobre análises gráficas de empresas e da Bolsa. A metodologia tem como foco a avaliação de acordo com o histórico do comportamento dos ativos. — O fórum surgiu porque, depois de fazerem nossos cursos, os alunos sentiam necessidade de continuar trocando idéias — diz Leandro Ruschel, um dos fundadores. A troca de idéias pode ser lida por qualquer internauta. Mas, para preservar o nível da discussão, apenas ex-alunos podem publicar comentários. Na Ágora, uma das maiores em operações via internet, há mais de 300 comentários de investidores por dia. Além disso, cerca de 1.100 pessoas acessam o site diariamente só para acompanhar as discussões. De acordo com o responsável pela área comercial, Hélio Pio, o bate-papo acontece das 9h às 18h e é acompanhado por dois analistas, que tiram dúvidas de investidores. Para participar, é preciso se cadastrar no home broker da corretora. — É um fórum educacional. A gente passa conhecimento e experiências de mercado. O cirurgião Guilherme Peralta, ou "Dr. Peralta", como é conhecido na internet, é freqüentador do fórum Leandro & Stormer. Às vezes, diz ele, tem que dar pito nos investidores iniciantes. — Eles têm a ilusão de que poderão ficar ricos muito rapidamente. O que a gente tenta passar é que ações são uma excelente ferramenta de investimentos, se usadas dentro de um padrão legal, com conhecimento e sem passos muito arriscados — diz ele, que já chegou a perder R$ 30 mil em um só dia quando era menos prudente e mais ansioso. No Bastter.com, maior fórum independente do país (sem ligação com corretoras), o controle é rígido. O consultor Maurício Hissa — ou Bastter, apelido inspirado no nome de seu cachorro — também conta que, volta e meia, dá broncas nos participantes. O fórum tem 25 mil usuários cadastrados e 150 mil visitantes por mês, além de oito moderadores. — Não permitimos brigas e disputas em torno de recomendações. E, quando alguém pede uma dica para comprar um papel que o fará ficar rico, eu digo: "Compre qualquer um, pois, com essa mentalidade, você vai perder tudo mesmo". Recém-inaugurado, o Vote Bolsa vai numa linha distinta. O objetivo principal é levar o usuário a votar na compra ou venda de determinado papel. — Nos fóruns, quem não está acompanhando a discussão o tempo todo pode perder o fio da meada. Queremos que o usuário diga, com clareza, se acha que é para comprar ou vender tal ação. Buscamos a sabedoria da multidão — diz Otávio Sampaio, um dos idealizadores. CVM alerta sobre manipulação de ações. O superintendente de Proteção e Orientação aos Investidores da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), José Alexandre Cavalcanti Vasco, diz que o órgão vê com bons olhos a propagação de discussões sobre investimentos, mas ressalta que o investidor não deve se guiar pela opinião de pessoas que não sejam especialistas. Além disso, lembra, os fóruns devem ser gratuitos, uma vez que a cobrança de informações só pode ser feita por analistas que tenham registro e estejam autorizados a atuar. E acrescenta: manipular preços de ações é crime, mesmo em fóruns. Em 2003, a CVM condenou um investidor a dez anos de afastamento do mercado, depois que ele plantou, em uma comunidade, um boato de que uma grande siderúrgica de São Paulo seria vendida. (Juliana Rangel, O Globo).

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