domingo, 17 de abril de 2011

De volta às bananas

Domingo no Rio! Ainda bem que o telefonema de minha filha local ao meio-dia me acordou, caso contrário eu teria continuado a dormir. Afinal minha cabeça ainda estava em Melbourne onde era uma da manhã de segunda-feira, ou seja, recuperei o dia que havia perdido na ida. Preciso me reacostumar com o fuso horário: esta semana será difícil não dormir no escritório durante o dia, espero que não me chamem para reuniões com apresentação de filmes... O problema é que descobri que eu ronco, mas essa é uma outra história...  A viagem de volta transcorreu bem, não obstante o problema em São Paulo, adiante relatado.

Acordei no sábado em Melbourne às 5 da manhã, minha filha e genro me levaram ao aeroporto e cheguei em casa no Rio às 23h de sábado, ou seja, 30 horas depois, contada a diferença de 13 horas. Também considerando porta a porta, na ida a viagem dura 36 horas porque os tempos de permanência nas conexões são maiores. Desta vez dormi pouco nos voos, Boeing 747-400 da Qantas até Buenos Aires e de lá para cá, Airbus 330 da TAM. Dizem que na Copa do Mundo de 2014 a Qantas vai voar até o Rio, direto acho que não tem avião com essa autonomia, só o trecho Sydney-Buenos Aires são 12 horas, aquele aviãozinho do monitor é um suplício, ele não anda...

O problema foi na chegada em São Paulo. O avião da TAM - com a fuselagem toda coberta com a assinatura dos funcionários festejando os 35 anos da voadora - estacionou no meio do pátio e o bus nos levou para o aeroporto, onde desembarcamos. Na caminhada, um funcionário da TAM, gordo, suado e esbaforido, me orientou a seguir em determinada direção, eu estranhei porque no avião falaram que quem fosse para o Rio deveria ir para uma sala de transferência e me parecia que eu estava desembarcando. Como eu estava cansado de 24 horas de viagem, com sono, não contestei duas vezes (o cara disse que agora era assim) e quando me dei por conta tinha feito o check-out e passado pela Alfândega (que também disse que às vezes era assim, dependendo do tempo de permanência - no caso três horas - as companhias liberavam os passageiros para desembarcar) e entregado o “nada a declarar” preenchido no avião. Nada disso! Eu deveria ter me rebelado e repudiado as instruções do FDP despreparado. Babaquice minha que deveria ser evitada com a presença de gente preparada. Nos outros países foi assim, inclusive no detestável aeroporto de Buenos Aires, onde fazem o viajante tirar sapatos e cintos antes de passar pelo detector de metais e ser apalpado por um arremedo de soldado do BOPE, todo de preto, com arma na cintura e aqueles balangandãs metálicos que os policiais adoram usar no mundo todo.

Resumo da ópera: aeroporto lotado, no balcão da TAM ninguém sabia o que fazer, o cara da Infraero falou que o meu boarding pass não valia mais e que eu deveria resolver com a TAM. No quarto funcionário finalmente a coisa foi resolvida (furei uma gigantesca fila de check in para falar com a atendente líder...) e foi impresso um novo bilhete para o mesmo voo anterior, internacional, que do Rio seguiria para Paris. Aí fui para a fila da Alfândega paulista, com mais de 1.000 pessoas organizadas naqueles caminhos com cordas, com uns 50 metros cada "raia", umas seis e eu ali no vai e vem... Sério! TODAS as pessoas saindo de São Paulo para voos internacionais precisam passar por três apertadas baias da Alfândega (primeiro pelo detetor de metais - três deles -, depois pelo guichê da própria para controle de passaportes - três duplos). É óbvio que aquilo vive lotado, afinal um só wide-body carrega 300, 400 pessoas e os caras no pinga pinga. Estresse geral: foreigners de um lado, brasileiros de outro.

Pelo menos a fila andava, ainda que lentamente... Quando uma hora depois chegou a minha vez no guichê a moça perguntou para onde eu ia, eu respondi que era para a sala de embarque vinte metros adiante (de onde eu nunca deveria ter saído), ela riu e me mandou seguir. Aí nova espera no lotadésimo gate 14 (que não é só quatorze, é 14A, 14B e 14C), descolando um lugarzinho pra sentar em uma escada que virou arquibancada com dezenas de pessoas esperando os voos. E isso porque os lugares sentados no chão já estavam ocupados... E querem organizar a Copa aqui!!  A parte de transporte aéreo – com toda a certeza – será um fiasco, porque não é preciso apenas ter verba para construir coisas, é preciso treinar as pessoas e isso leva anos...
Vida que segue, finalmente consegui entrar no avião para o vôo ao Rio... Pela primeira vez, nas oito pernas da viagem, sentou um cara ao meu lado, gordo, me espremendo, pagou um esporro na aeromoça que não veio trazer a água que ele queria, constrangedor... E no assento da esquerda, um moleque com boné, morto de sono, dormia a sono solto e encostava a cabeça no meu ombro. Na fila de trás, a mãe do dorminhoco papagaiava com outras viajantes e outro filho, um garoto de cinco anos, Marcorrélio, o centro das atenções. Estavam vindo de Maputo, onde o marido é engenheiro da Vale, vai passar uns dias na casa do pai na Barra, naquela rua ao lado da Tourão etc etc, até o e-mail dela eu fiquei sabendo... Depois as mulheres ficam putas quando sacaneadas por falar demais...

Tudo isso porque, fruto da bagunça na Alfândega, o avião ficou em solo 60 minutos esperando os passageiros da transfer, até que as aeromoças contassem todos os que faltavam. Por isso, em vez de decolar às 19h30 (eu cheguei às 16h30), decolou às 20h30. No Rio, uma espera de 45 minutos na esteira para receber as malas, que foram embarcadas em Melbourne e das quais eu só tive notícias na transferência da Qantas para TAM, em Buenos Aires, que checou os números do meu cartão. Finalmente chegaram (e olha que não foram as últimas, uma gorda enlouquecida pagava geral inclusive para quem estava esperando as malas, chamados por ela de babacas porque ninguém se revoltava...), avariadas, com os cadeados quebrados, um deles sumiu para sempre... Além de o suporte de uma delas também ter quebrado... Nova discussão com a TAM, pelo menos tem um carinha de plantão nas esteiras: disse-me que só poderia aceitar reclamação se houvesse diferença de peso. Felizmente não tinha, as presilhas dos cadeados se quebraram no atrito entre as bagagens, afinal elas andaram em 4 aviões diferentes. Numa próxima viagem longa vou mandar envelopá-las com filme plástico. A questão do suporte quebrado em até cinco dias úteis a Michelle da TAM vai me telefonar para pegar a mala para consertar... Será?

Mas a história continua... Quando cheguei na duty free, para comprar dois litros de tequila e suco de limão encomendados pela Confraria mais o tradicional pacote de chocolatinhos Lindt para distribuir aos colegas de trabalho, o cara da recepção perguntou de onde eu vinha e quando eu respondi que era da Australia ele sem consultar nada nem me perguntar já foi me barrando, alegando que eu não poderia entrar pois eu deveria ter comprado na duty free de São Paulo onde eu havia entregue a ficha de "nada a declarar" para o funcionário da RF. Caraca!! Nisso eles são organizados, o cara sabia e estava me esperando... Bem, nada de tequila e chocolates... Em tempo: bem que eu pensei em comprar, mas a loja de Guarulhos é caidaça, minúscula, deixei para comprar no Rio e dancei...

Pra encerrar, quando eu estava em Melbourne telefonei para a operadora do cartão de crédito para dizer que ficaria mais dias (eles só aceitam períodos de 30 dias, passados os quais o sujeito precisa renovar a informação) e eu informei que ficaria na Australia até o dia 20 (igual ao seguro saúde, que foi colocado com uns dias a mais para prever possíveis atrasos). Na hora em que fui pagar o taxi no balcão (com duas malas grandes + mochila não é uma boa encarar um amarelinho comum fora do esquema mafioso dos aeroportos do Rio) o sistema recusou, a minha senha estava inválida, para o computador eu ainda estava no exterior... Menos mal que eu tinha algum em espécie e pude pagar. Não sei se eu telefonasse para o cartão ele liberaria na hora, vou procurar saber disso. Outro cartão? Detonei todos, fiquei só com um. E como nunca o uso para pagar contas, nem lembrei que eu poderia usar o cartão do banco como débito.

Um último detalhe: cheguei na porta do prédio onde moro e quem diz que a chave serviu? A fechadura foi trocada na minha ausência... Menos mal que o porteiro me viu e abriu a porta (a tiazinha síndica proíbe que eles façam isso, mas por aqui sempre se dá um jeito...). Finalmente em casa!! Brasiuuuuuuuuuuu !☺

Agora vou ao mercado, não tem porranenhuma em casa... e em seguida almoçar com a filha local. Ahhhhhhhhh!! O porquê do título desta postagem? Vejam a foto abaixo, de um supermercado em Melbourne. Resultado das enchentes de fevereiro em Queensland, área de plantação de bananas, o quilo da fruta subiu de AUD 4.00 para 11.98, que vertido para a moeda americana dá uns US$ 12.20, ou seja, dez vezes mais que aqui no Rio. Vocês acham que eu comeria bananas a esse preço?

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