Dia desses estava assistindo a um documentário num canal a cabo, não sei se no Discovery Channel ou National Geographic, que abordava a intricada e impressionante cadeia que sustenta à vida no nosso planeta. Um pesquisador, biólogo, de uma universidade americana pesquisava no Quênia, na África, a evolução da população de animais selvagens que viviam protegidos em uma reserva do governo.
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A questão básica era o declínio da população em certos períodos, provocado pela caça ilegal, e o cientista buscava encontrar um padrão no movimento dos caçadores que permitisse aos guardas do parque tomar medidas preventivas contra a mortandade dos animais. O trabalho mostrava-se infrutífero uma vez que, pelos dados estatísticos da reserva, a atividade predatória era aparentemente aleatória; não havia padrão.
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O nosso pesquisador de volta à sua universidade assiste, por coincidência, a uma palestra proferida por um queniano que pertencia aos quadros do governo do Quênia e que falava sobre as necessidades de alimentação de seu povo. Dizia ele que a dieta básica de proteínas era o pescado e, faltado pescado sobrevinha à dificuldade. O nosso biólogo num movimento intuitivo liga o peixe aos animais do parque. Faz uma correlação entre os dois movimentos e verifica com exatidão que nos períodos de pesca insuficiente, a caça era estimulada. O preço do peixe subia devido à escassez e os caçadores entravam em cena suprindo o mercado de carne.A questão do nosso biólogo estava resolvida; bastava monitorar a pesca e, na baixa de pescado, reforçar a vigilância na reserva.
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Mas, e o peixe? Porque periodicamente diminuía em número? Esse questionamento foi objeto de pesquisa de uma bióloga marinha que fazia seu trabalho de campo no litoral da Namíbia ao longo da costa do deserto. Era fato que, de tempos em tempos, havia uma enorme mortandade de peixes sem que, até então, se soubesse o porquê. Reparou, nossa bióloga, que o desastre era precedido por um cheiro nauseante. Pesquisa daqui, pesquisa dali, através da análise do material recolhido no leito oceânico, verificou a presença de dois gases – sulfeto de hidrogênio e gás metano – produzida pela decomposição de matéria orgânica, oriunda de toneladas de fitoplâncton. O sulfeto de hidrogênio quando liberado reagia com o oxigênio livre da água, reduzindo a presença deste, literalmente asfixiando os peixes.
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Restava saber como e porque esse gás era liberado e qual o papel do gás metano nessa história toda. A resposta foi dada por um meteorologista que monitorava o tempo no deserto da Namíbia. Reparou o dito senhor que os gases eram liberados do fundo do oceano sempre que chovia no deserto. Isso acontecia porque só chovia quando a umidade provocada pela evaporação das águas do mar era levada para o deserto pelos ventos oriundos de uma baixa da pressão atmosférica sobre o oceano. Essa baixa de pressão liberava o gás metano contido no fundo do mar, da mesma forma que ao se retirar a rolha da garrafa de espumante alivia-se a pressão no interior da garrafa e o gás e liberado. O gás metano carregava junto consigo o sulfeto de hidrogênio que, por sua vez, liquidava o oxigênio livre na água.
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Apesar de esta questão ficar respondida, ficava ainda uma interrogação. Porque o fitoplâncton vinha se acumulando às toneladas? Mais uma vez, pesquisa daqui, pesquisa dali, chegou-se a conclusão que foi a devastação dos cardumes de sardinhas que faziam, através da sua alimentação, o controle do fitoplâncton. Milhões de toneladas de sardinha foram pescadas sem qualquer critério pelos civilizados europeus.
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Conclusão: a estabilidade da população de animais selvagens do parque do Quênia depende da recomposição dos cardumes de sardinhas das costas da Namíbia. O documentário informa que se está tentando criar sardinhas em cativeiro para depois soltá-las no oceano e assim buscar de novo o equilíbrio natural.
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O documentário só não informa se os bondosos europeus que vivem dando ao mundo lições de civilidade estão de alguma forma ajudando nessa questão. Pelo que eu conheço acho que ele, o glorioso povo europeu, está se lixando. (colaboração de Nelson S.)
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