segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Duelo em Amargo Pesadelo

"Amargo Pesadelo" (Deliverance, 1972) - Dirigido por John Boorman, estrelado por Jon Voight (o de cachimbo, pai da Angelina Jolie), Burt Reynolds, Ned Beatty e Ronny Cox (no vídeo acima com o violão duelando com o banjo do garoto autista, uma das mais famosas e arrepiantes cenas do cinema). "Amargo Pesadelo" é um filme vigoroso que fala da capacidade do homem enfrentar situações adversas, nas quais a violência e a crueldade estão sempre presentes. Todo o elenco está muito bem. Burt Reynolds talvez tenha tido, nesse filme, a melhor atuação de toda a sua carreira. O roteiro de James Dickey (baseado em seu livro) é vigoroso e inteligente. A fotografia de Vilmos Zsigmond é, sem dúvida, excelente. A adaptação da canção "Dueling Banjos", por Eric Weissberg, é uma marca indiscutível dos anos 70. O diretor John Boorman, entretanto, é a grande estrela do filme (fonte: internet, sendo o clipe uma colaboração de João S.)

Crítica de Henrique Schindler: o rio Cahulawassee, nos montes Apalaches, desce violentamente por entre, sobre e ao largo de suas rochas. Solto, livre, é uma espécie de cobra muito arisca e saliente. No entanto, como Deus não deu asa a cobra, o rio Cahulawassee será reprimido: seu futuro é o de uma represa, ele será, no máximo, um lago, a serviço do homem citadino. John Boorman (que dirigiu Esperança e Glória, entre outros) decide colocar quatro homens da cidade, pais de família, dentro desse rio. O líder é o entusiasta e aventureiro Lewis Medlook (Burt Reynolds), que teve a “grande idéia” de se despedir do famoso rio convidando três amigos a descerem-no de canoa, dois em cada embarcação. Com exceção de Lewis, todos são inexperientes no assunto. A história decorre dessas águas. O filme é tortuoso e regular, ao mesmo tempo, mas sobretudo vertiginoso. A vertigem tem a medida exata tanto da imperícia de três dos quatro homens quanto da sede de liberdade do rio, espécie de canto do cisne, sua última oportunidade de mostrar-se inteiro, pronto, vivo, disposto a permanecer. Em uma pequena sucessão de tragédias o dia vai finalizando suas atividades alheio aos acontecimentos. Salta do filme essa altivez ou indiferença do céu, muito azul, das rochas, solenes e inflexíveis, da água seguindo seu curso em direção ao conforto. Lentamente sufocante, o filme de Boorman cria uma forte simbologia, uma inversão de valores: de repente os tais homens da cidade, ordeiros e pacatos, são levados a praticar atos comuns entre selvagens, numa relação negativa à civilização instituída. A trilha sonora reitera a metáfora, uma vez que é construída, a princípio em som direto, a partir de um dueto entre o violão de Drew (Ronny Cox), integrante da trupe, e o banjo de um garoto da região. Jon Voight (que teve antológicas atuações em "Campeão" e "Perdidos na Noite") e Ned Beatty – que está excelente em um personagem absolutamente castrado pela vida em sociedade – completam o elenco desse que é um filme atual, e, me parece, sempre será, enquanto ainda existirmos. É interessante fazer um paralelo entre o filme de Boorman e dois outros realizados posteriormente: "Short Cuts" e "Sobre Meninos e Lobos

E vejam esta versão do duelo no YouTube
http://www.youtube.com/watch?v=PsST8SxyFnM

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