sexta-feira, 25 de setembro de 2009

O discurso de Cícero, em 63 a.C.

O tempo passa e a Lusitana roda... e as atitudes das pessoas não se modificam, notadamente dos políticos. O discurso de Cícero, o grande tribuno romano, denunciando Catilina, em 63 a.C., que começa com a famosa frase "Até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência?" poderia perfeitamente ser proferido hoje, trocando-se apenas os nomes (por Sarney, apenas para exemplificar...). A charge acima retrata o discurso.

Ambiente
Primeiro discurso contra Catilina de Marco Túlio Cícero (106 a.C. - 43 a.C.), cônsul de Roma, recitado no Templo de Júpiter em 8 de novembro de 63 a.C., portanto, há 2.072 anos... O conjunto dos discursos de Cícero contra Catilina ficou celebrizado sob o nome de "Catilinárias", que foram usadas por muito tempo como uma das principais formas de ensino de argumentação em todo o mundo. Lúcio Sérgio Catilina, patrício romano, nasceu em 109 a.C. e morreu em 62 a.C. Corajoso e ousado, mas sem escrúpulos, fomentou contra o Senado uma conjuração em que entraram jovens depravados e arruinados de Roma. Esta conjuração foi denunciada por Cícero em 63. Morreu com as armas na mão, em Pistóia. Por proposta de Catão, os conjurados foram condenados à morte. Catilina tornou-se sinônimo de conspirador e o nome dele é empregado para designar os que desejam recompor a sua fortuna sobre as ruínas da própria pátria.

Parte inicial do discurso
Até quando, oh Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda há de zombar de nós essa tua loucura? A que extremos se há de precipitar a tua audácia sem freio? Nem a guarda do Palatino, nem a ronda noturna da cidade, nem os temores do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado, nem o olhar e o aspecto destes senadores, nada disto conseguiu perturbar-te? Não sentes que os teus planos estão à vista de todos? Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a conhecem? Quem, dentre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na precedente, em que local estiveste, a quem convocaste, que deliberações foram as tuas?

Oh tempos, oh costumes! O Senado tem conhecimento destes fatos, o cônsul tem-nos diante dos olhos; todavia, este homem continua vivo! Vivo?! Mais ainda, até no Senado ele aparece, toma parte no Conselho de Estado, aponta-nos e marca-nos, com o olhar, um a um, para a chacina. E nós, homens valorosos, cuidamos cumprir o nosso dever para com o Estado, se evitamos os dardos da sua loucura. à morte, Catilina, é que tu deverias, há muito, ter sido arrastado por ordem do cônsul; contra ti é que se deveria lançar a ruína que tu, desde há muito tempo, tramas contra todos nós.

No original
[1] Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia nostra? quam diu etiam furor iste tuus nos eludet? quem ad finem sese effrenata iactabit audacia? Nihilne te nocturnum praesidium Palati, nihil urbis vigiliae, nihil timor populi, nihil concursus bonorum omnium, nihil hic munitissimus habendi senatus locus, nihil horum ora voltusque moverunt? Patere tua consilia non sentis, constrictam iam horum omnium scientia teneri coniurationem tuam non vides? Quid proxima, quid superiore nocte egeris, ubi fueris, quos convocaveris, quid consilii ceperis, quem nostrum ignorare arbitraris?

[2] O tempora, o mores! Senatus haec intellegit. Consul videt; hic tamen vivit. Vivit? immo vero etiam in senatum venit, fit publici consilii particeps, notat et designat oculis ad caedem unum quemque nostrum. Nos autem fortes viri satis facere rei publicae videmur, si istius furorem ac tela vitemus. Ad mortem te, Catilina, duci iussu consulis iam pridem oportebat, in te conferri pestem, quam tu in nos [omnes iam diu] machinaris.(colaboração de Nelson S.; charge obtida na internet)

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