Brasília paga os erros de nascença (por Villas-Bôas Corrêa, Jornal do Brasil, 19.dez.09) - Capital projetada por Lúcio Costa e embelezada pelo gênio do centenário Oscar Niemeyer está pagando com a crise ética e moral dos três poderes, que atinge em cheio o Legislativo, em tese o mais democrático e o mais alvejado pelo esguicho de lama das roubalheiras em série sem fim, que só não podem surpreender a quem tenha acompanhado com visão crítica a série funesta de erros de uma sucessão de desatinos.
O presidente Bossa Nova, de justa popularidade, carimbou com a leviandade a promessa de cumprir o dispositivo constitucional de construir a nova capital para a mudança ainda no seu governo. O aparte de um popular em comício da campanha reclamou a inclusão da mudança da capital nas metas do candidato. E o JK, sem hesitar um segundo, ali, na bucha, prometeu construir e transferir a capital do Rio para os cafundós do cerrado.
Entre os muitos acertos e realizações do seu governo, Juscelino Kubitschek dedicou uma atenção especial ao acompanhamento das obras, gerenciadas por Israel Pinheiro. Uma epopeia badalada pelos sinos da propaganda e acompanhada pelo país, a princípio pela cobertura da Manchete, com a prioridade do entusiasmo de Adolfo Bloch, e por toda a mídia. No mutirão final, para descontar o inevitável atraso, o rodízio das turmas emendava o dia com a noite. E a correria disparou nas cutucadas da urgência na mais absoluta e descarada irresponsabilidade de pagar qualquer preço para vencer as resistências dos ministros, parlamentares, altos funcionário em mudar com a família para um canteiro de obras de uma cidade sem as mínimas condições de habitabilidade.
No lamaçal das pancadas de chuva ou no poeirento calorão do sol inclemente, a praga das mordomias brotou e floresceu com a solidez de árvores centenárias. Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e demais órgãos do Judiciário ganharam mansões à beira do lago, que seriam compradas na aposentadoria por preço módico e pagamentos a perder de vista. Que se saiba, apenas o ministro Célio Borba recusou a prenda.
No Legislativo, a bambochata disparou como foguete interplanetário que nunca foi detido ou controlado: verba indenizatória, passagens aéreas para o fim de semana com a família no reduto eleitoral, assessores de coisa nenhuma, vantagens e, na atual temporada, o festival da roubalheira, até o megaescândalo do governador de Brasília, o big boss Roberto Arruda, campeão absoluto da gatunagem debochada com os flagrantes da distribuição de pacotes de notas de milhares de reais aos secretários de governo, deputados distritais, cúmplices, e que eram escondidas nas cuecas, meias, sapatos e outros locais de difícil acesso. Afinal, o escândalo passou da conta e não pode ser esquecido com as clássicas manobras protelatórias. A proximidade da campanha eleitoral adverte o nosso presidente, comandante da campanha da sua candidata, a ministra Dilma Rousseff que ora acumula tarefas com excelente disposição e exuberante entusiasmo de chegar ao pódio com as bênçãos do padrinho todo-poderoso.
Mas, e até lá como limpar a imundície espalhada pelos cantos, escorrendo das paredes? Se a tolerância elástica do presidente proclama que a imagem de políticos, com o governador de Brasília, José Roberto Arruda, comandando a distribuição de pacotes de notas “não fala por si”, a recomendação de aguardar em respeitoso silêncio “todo o processo de investigação e apuração” equivale a um prévio aviso que é melhor esperar sentado em poltrona macia.
Falta o complemento lógico de que cadeia foi feita para os pobres, já atendidos pelo Bolsa Família. Pelo menos até as eleições de 5 de outubro de 2010 vamos conviver com as cautelas oficiais para não derramar o balde dos dejetos. A única saída passa por muitos desvios e mundéus até o ponto final de uma Constituinte, despoluída pela reação popular do voto, com a renovação de senadores e deputados, eleitos com explícitos compromissos de acabar com todas as mordomias.
E o que fazer com Brasília, construída para sediar a capital, planejada para uma população de 500 mil habitantes, que já passam de 2,5 milhões, e se transformou num estado, com governador, prefeito, assembleia legislativa e câmara de vereadores? A capital tranquila está cercada de favelas, que nada ficam a dever ao Rio. Só não tem mar, praias e a Baía de Guanabara (villas@jb.com.br ).
O presidente Bossa Nova, de justa popularidade, carimbou com a leviandade a promessa de cumprir o dispositivo constitucional de construir a nova capital para a mudança ainda no seu governo. O aparte de um popular em comício da campanha reclamou a inclusão da mudança da capital nas metas do candidato. E o JK, sem hesitar um segundo, ali, na bucha, prometeu construir e transferir a capital do Rio para os cafundós do cerrado.
Entre os muitos acertos e realizações do seu governo, Juscelino Kubitschek dedicou uma atenção especial ao acompanhamento das obras, gerenciadas por Israel Pinheiro. Uma epopeia badalada pelos sinos da propaganda e acompanhada pelo país, a princípio pela cobertura da Manchete, com a prioridade do entusiasmo de Adolfo Bloch, e por toda a mídia. No mutirão final, para descontar o inevitável atraso, o rodízio das turmas emendava o dia com a noite. E a correria disparou nas cutucadas da urgência na mais absoluta e descarada irresponsabilidade de pagar qualquer preço para vencer as resistências dos ministros, parlamentares, altos funcionário em mudar com a família para um canteiro de obras de uma cidade sem as mínimas condições de habitabilidade.
No lamaçal das pancadas de chuva ou no poeirento calorão do sol inclemente, a praga das mordomias brotou e floresceu com a solidez de árvores centenárias. Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e demais órgãos do Judiciário ganharam mansões à beira do lago, que seriam compradas na aposentadoria por preço módico e pagamentos a perder de vista. Que se saiba, apenas o ministro Célio Borba recusou a prenda.
No Legislativo, a bambochata disparou como foguete interplanetário que nunca foi detido ou controlado: verba indenizatória, passagens aéreas para o fim de semana com a família no reduto eleitoral, assessores de coisa nenhuma, vantagens e, na atual temporada, o festival da roubalheira, até o megaescândalo do governador de Brasília, o big boss Roberto Arruda, campeão absoluto da gatunagem debochada com os flagrantes da distribuição de pacotes de notas de milhares de reais aos secretários de governo, deputados distritais, cúmplices, e que eram escondidas nas cuecas, meias, sapatos e outros locais de difícil acesso. Afinal, o escândalo passou da conta e não pode ser esquecido com as clássicas manobras protelatórias. A proximidade da campanha eleitoral adverte o nosso presidente, comandante da campanha da sua candidata, a ministra Dilma Rousseff que ora acumula tarefas com excelente disposição e exuberante entusiasmo de chegar ao pódio com as bênçãos do padrinho todo-poderoso.
Mas, e até lá como limpar a imundície espalhada pelos cantos, escorrendo das paredes? Se a tolerância elástica do presidente proclama que a imagem de políticos, com o governador de Brasília, José Roberto Arruda, comandando a distribuição de pacotes de notas “não fala por si”, a recomendação de aguardar em respeitoso silêncio “todo o processo de investigação e apuração” equivale a um prévio aviso que é melhor esperar sentado em poltrona macia.
Falta o complemento lógico de que cadeia foi feita para os pobres, já atendidos pelo Bolsa Família. Pelo menos até as eleições de 5 de outubro de 2010 vamos conviver com as cautelas oficiais para não derramar o balde dos dejetos. A única saída passa por muitos desvios e mundéus até o ponto final de uma Constituinte, despoluída pela reação popular do voto, com a renovação de senadores e deputados, eleitos com explícitos compromissos de acabar com todas as mordomias.
E o que fazer com Brasília, construída para sediar a capital, planejada para uma população de 500 mil habitantes, que já passam de 2,5 milhões, e se transformou num estado, com governador, prefeito, assembleia legislativa e câmara de vereadores? A capital tranquila está cercada de favelas, que nada ficam a dever ao Rio. Só não tem mar, praias e a Baía de Guanabara (villas@jb.com.br ).
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