segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Ponto de mutação

Você curte filmes papo-cabeça? Sério? Gostou de "Quem somos nós?"? Então reserve umas duas horas e assista "Ponto de Mutação ("MindWalk", 1990), dirigido para "pensadores apaixonados" (vide subtítulo no cartaz ao lado) e que trata de assuntos muito na moda abordados 'en passant' por filmes 'comerciais' como, por exemplo, o arrasa-quarteirão Avatar. Você pode encontrar o filme em VHS (não existe DVD) ou na internet (veja o link abaixo).

O filme foi baseado no livro "The Turning Point" ("O Ponto de Mutação"), 1983, de autoria do cientista checo Fritjof Capra e dirigido por Bernt Amadeus Capra, irmão do escritor, que também foi co-responsável pelo screenplay. Trilha sonora: música minimalista de Phillip Glass. O roteiro trata de um político estadunidense (Jack Edwards, interpretado por Sam Waterston) que vai à França encontrar um velho amigo poeta (Thomas Harriman, interpretado por John Heard) e juntos vão visitar o monte St. Michael, famoso ponto turístico no litoral francês do Atlântico. Lá, conhecem uma brilhante cientista (Sonia Hoffman, interpretada por Liv Ullman) e os três tecem uma profunda discussão sobre questões existenciais.

Crítica (disponível na internet, escrita por Lincon Castro, músico) - O filme cria uma comparação entre o pensamento cartesiano com o paradigma emergente no Século XX. O pensamento cartesiano é o modelo utilizado para o método científico desenvolvido nos últimos séculos, e o paradigma emergente, ou pensamento holístico, vê o todo como indissociável e que o estudo das partes não permite conhecer o funcionamento do organismo.

Os três personagens principais são uma cientista, um poeta e um político. O político tem uma visão mais fechada, um pensamento mais linear e, durante o filme, a cientista tenta, com a ajuda do poeta, fazer com que o político consiga abrir os olhos e conceber o mundo com uma visão mais aberta. Durante o filme a cientista apresenta a necessidade de se perceber o mundo diferente e que essa crise da percepção seria a causa de muitos dos problemas atuais. A mudança de um sistema cartesiano para o “ecological thinking” (visão holística) representa justamente o entrave que a humanidade está enfrentando. Cada personagem passa por um drama particular na história.

A cientista perdeu a fé no verdadeiro sentido de sua profissão ao se dar conta de que seu trabalho era pervertido pelo governo, e resolve se mudar e isolar do mundo e de todos, incluindo a filha adolescente que mora com ela. O poeta se decepcionou com a vida nos Estados Unidos como assessor de imprensa do político e resolver se afastar. O político perdeu a eleição para presidente dos Estados Unidos e, apesar de não ter consciência do porquê, percebe que existe uma necessidade de se reavaliar e reestruturar.

O castelo, onde o filme é ambientado, pode ser encarado com uma metáfora ao isolamento da cientista. Apesar de todo dia se isolar e afastar, a maré sobe e lhe abraça, mostrando que todos esses sistemas estão unificados, de que nós também fazemos parte, e que não podemos nunca nos isolar completamente.

No final, o político, apesar de não conseguir fugir muito do seu raciocínio prático e cartesiano, percebe o valor do discurso apresentado pela cientista e considera incorporá-la a sua equipe, mas ela nega pois continua a acreditar que precisa repensar a sua vida. O poeta então declama um poema de Pablo Neruda, resumindo toda a crise de percepção e a necessidade de não apenas observar os detalhes, mas também perceber as relações e encontrar nós mesmos. Estas palavras do poeta influenciam a cientista a se aproximar mais da filha, criando uma visão metafórica otimista de que a humanidade poderá um dia superar a visão cartesiana para criar uma maior integração e uma nova percepção sobre a ciência, percepção esta no filme chamada de “ecological thinking”.

O livro - O nome foi extraído de um hexagrama do I Ching. No livro, Fritjof Capra (Ph.D. em física teórica na Universidade de Viena em 1966, especialista em Teoria dos Sistemas, residente em Berkeley, na Califórnia, onde é diretor-fundador do "Center for Ecoliteracy" / "Centro para Alfabetização Ecológica") compara o pensamento cartesiano ao paradigma emergente no século XX. O primeiro é reducionista e modelo para o método científico desenvolvido nos últimos séculos. O segundo, holístico ou sistêmico, vê o todo como indissociável; o estudo das partes não permite conhecer o funcionamento do organismo. As comparações são feitas em vários campos da cultura ocidental atual, como a medicina, a biologia, a psicologia e a economia.
Calma gente! Não escrevi isso não, copiei de uma análise acadêmica feita por duas mestrandas da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Carine Nath de Oliveira e Simone Peluso, que está disponível na internet:
 
Veja o filme completo, legendado, no Google Vídeos (1h50):
http://video.google.com/videoplay?docid=854094769667634943#

Ou então, sem legendas:
http://video.google.com/videoplay?docid=854094769667634943#docid=9107401959308808776

(colaboração de Maria G.P.)

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