Ontem à noite no Maraca, qualquer time nas condições do Flamengo entraria de salto alto. Caberia aos cartolas chamar a atenção para isso. O problema é que tudo é business. A TV precisa de conteúdo, os times precisam estar constantemente jogando, as federações e a CBF precisam faturar e dane-se o torcedor normal, que não tem grana para ir tantas vezes ao estádio e daí faz assinatura de um canal de esportes. Por isso marcam campeonatos paralelos sem tempo para descanso, o show não pode parar. Evidentemente um time que ganha uma competição, mesmo que local ou regional, precisa de um certo tempo (uma semana ?) pra comemorar, festejar, é da natureza humana. Mas o que se vê por aqui? Terminou o Estadual no domingo, tem fase decisiva da Libertadores e da Copa do Brasil no meio da semana e o Campeonato Brasileiro começa no próximo sábado. Não dá pra curtir, o torcedor, nem relaxar, o jogador. Por conta da festa que rolava desde domingo, o Flamengo perdeu a noção da prioridade que existia, que era a Libertadores. Afinal, estando nas Quartas de Final, o time que ganhar - nem precisa tanto, mas digamos assim - TODAS as próximas 10 partidas (é desta ordem de grandeza, não fiz as contas) será Campeão do Mundo no Japão... Cabia aos dirigentes rubronegros não deixar haver relaxamento, poderiam ter tirado os jogadores do Rio e os enfiado em uma concentração na serra para o jogo com o time mexicano. Mas com cartolas como os do Fla, do Botafogo, do Fluminense e do Vasco, isso jamais aconteceria pois todos eles são torcedores e entram no clima, afinal, não ganhamos de 4 a 2 lá? Além do oba-oba normal do bicampeonato estadual, trinta vezes campeão, festa para o sainte "Paizão" que vai para a África, festa para entrante "Tiozão" (que chegou e declarou que corria o risco - não corre mais - de ser campeão do mundo). Só esqueceram de avisar ao América do México...
Na verdade, se existissem aqui campeonatos técnicos (o nacional por pontos corridos foi um avanço), na semana corrente não haveria futebol no país e os jogadores estariam em férias por uma semana. E outro período de férias no final do ano, na época de Natal/Reveillon. Quem tem um fluxo de caixa antecipado como os jogadores de futebol, com vida útil realmente aquisitiva em torno de apenas dez anos, não pode querer ter também trinta dias corridos de férias como os mortais comuns, que trabalham até os 65 anos e mais, mas sem receber o mesmo nível de salário dos jogadores profissionais. E não me venham com essa história de que só ganham salários astronômicos os jogadores que mais se destacam. Em qualquer clube que dispute o campeonato brasileiro, um juvenil recém-promovido a profissional, com 18 anos, ganha salário em torno de R$ 5 mil. Por outro lado, dos tais campeonatos estaduais não pode participar grande parte dos competidores atuais (que estão aí só pra angariar votos para manter os cartolas federativos longos anos nos cargos), basta ver a tabela do estadual do RJ para constatar isso. Aqui temos quatro times e fim de papo. Pelo tamanho do Brasil, talvez fosse o caso de ressuscitar a idéia dos campeonatos regionais (o da nossa área com quatro do Rio, quatro de São Paulo, dois de Minas). E para não deixar morrer a rivalidade local, fazer todo ano um torneio rápido entre Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo.
E um amigo me lembra que o que vale para os vitoriosos, serve para os derrotados, taí o Botafogo, todo estropiado, que pega hoje o Galo e no fim de semana entra no Brasileiro. Penso que um descanso seria até melhor para os derrotados, pois para quem perdeu é básico reorganizar o time e para isso é preciso tempo. Sobre a necessidade de ter elencos grandes, isso se agrava no regime de "copas", curtas (separação por grupos e final no mata-mata) e menos no de "campeonatos", mais longos, com turno e returno, possibilitando a recuperação dos lesionados. Antigamente existia a categoria de "aspirantes" que, por vezes, disputavam um campeonato paralelo ou saiam a excursionar pelo interior (os "expressinhos") para arrecadar fundos, enquanto a equipe principal disputava o torneio maior. Quando alguém se machucava ou era suspenso, chamava-se alguém dos aspirantes. Nos anos Sessenta, essa categoria sumiu e foi substituída pelos juvenis ou juniores, que disputam um campeonato competitivo, o que é um crime. Pegam garotos com 12, 13 anos e ficam ensinando táticas de futebol, geralmente treinadores de segunda categoria, com a obrigação de vencer. Em resumo, ensinam a garotada a jogar retrancada. Se não houvesse competição, eles poderiam livremente criar, Pelé, Garricha, são exemplos disso, hoje em dia eles seriam castrados, impedidos de driblar. Só mais tarde é que entrariam no time de aspirantes para aprender a competir. Outra coisa que sumiu e que era ótima foi o "torneio início", uma vez por ano. No domingo imediatamente anterior ao início do campeonato estadual, a partir das nove da manhã, reuniam-se em um estádio TODOS os times que iriam competir e faziam-se jogos de 40 minutos (com tempos de 20), primeiro classificatórios, depois eliminatórios e assim, lá pelas 4h da tarde começava a partida que iria decidir o título de Campeão do Torneio Início. E quem ganhava ficava zoando a semana toda até o início do campeonato propriamente dito. Era uma festa! Esse assunto vai longe...
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