Quando a violência da ditadura torna-se intolerável, às vezes uma das poucas armas de resistência popular é o humor. E disso entendia muito bem o jornalista Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, autonomeado com o pseudônimo de Barão de Itararé, vereador eleito e cassado em 1947 pelo Partido Comunista, para enfrentar tanto a polícia secreta do Estado Novo, como a democracia pós-45 que colocou seu partido na ilegalidade. Uma das suas máximas é que, cansado de apanhar ao ser preso, inventou a famosa frase "Entre sem bater", que acabou se tornando um corriqueiro lembrete de cortesia nas portas dos escritórios. Gaúcho de Rio Grande, nascido em 29 de janeiro de 1895, veio para o Rio de Janeiro em 1925, após abandonar a faculdade de Medicina. Aqui, ele se tornou jornalista político e mestre e "pai" do humor, tanto que podemos considerar seus "filhos e netos" gente como a turma do Pasquim, Sérgio Porto - o saudoso Stanislaw Ponte Preta -, Jô Soares, Luís Fernando Veríssimo, os redatores do programa de tevê Casseta e Planeta, da revista Bundas. O apelido Barão de Itararé, inventado por ele, foi criado para gozar a famosa batalha de Itararé, que nunca houve. Nesta cidade, os revoltosos constitucionalistas de São Paulo se concentraram para barrar as forças do Governo Provisório de Getúlio Vargas, as quais apenas passaram ao largo, ignorando completamente os valentes combatentes paulistas. Após a cassação de seu mandato, em fins de 1947, quando declarou que saía da vida pública para entrar na privada, o Barão continuou sua luta no jornal A Manha. Em seus últimos anos de vida, depois de 1964, dedicou-se a estudos matemáticos, à numerologia e desenvolveu o que chamou de "horóscopos biônicos" e "quadrados mágicos". Morreu em 27 de novembro de 1971, aos 76 anos, em seu apartamento em Laranjeiras ("Máximas e Mínimas do Barão de Itararé").
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