A ousada busca pelo ser humano perfeito
Manipulações genéticas e ciborgues. Na tentativa de alcançar a derradeira criatura humana os cientistas foram capazes de produzir, nos últimos dez anos, autênticos milagres. Estará a imortalidade cada vez mais perto ou será que, enquanto espécie, estamos chegando ao fim de um ciclo, em que perderemos aquilo que fisicamente nos torna humanos?
Manipulações genéticas e ciborgues. Na tentativa de alcançar a derradeira criatura humana os cientistas foram capazes de produzir, nos últimos dez anos, autênticos milagres. Estará a imortalidade cada vez mais perto ou será que, enquanto espécie, estamos chegando ao fim de um ciclo, em que perderemos aquilo que fisicamente nos torna humanos?
Em 2001, uma equipe de investigadores do Instituto para a Medicina e Ciência Reprodutiva de Nova Jersey, nos EUA, anunciou o nascimento dos primeiros bebês geneticamente manipulados. O “truque” consistiu em usar parte do conteúdo do óvulo de uma doadora e transferi-lo para o óvulo de uma mulher infértil. Esta conseguiu dar à luz um bebê, mas a criança passava a ter um pai e duas mães. O caso fez erguer a sobrancelha de muitos religiosos conservadores.
Atualmente existem técnicas para detectar doenças hereditárias e assim escolher os embriões saudáveis que vão ser inseminados no óvulo. Quer isto dizer que os pais poderão ter a possibilidade de escolher determinadas características para os filhos. Alto, forte, olhos claros e cabelo louro. Muitos cientistas temem que, no futuro, estas características possam vir a integrar o menu que vai desenhar geneticamente uma criança, tal e qual como se estivéssemos a criar uma personagem no jogo “The Sims”.
Para aqueles que já nasceram, daqui a alguns anos poderá ser possível transformá-los em alguém semelhante ao Incrível Hulk. Não é caso para desdenhar, pois em 2004 foi documentado o estranho caso de um bebê alemão portador de uma mutação genética que lhe dava um crescimento muscular acima do normal. Com apenas quatro anos de idade, o hercúleo petiz era capaz de esticar os braços na vertical enquanto segurava pesos com mais de três quilos.
O segredo está em um determinado gene, responsável por bloquear a produção de uma proteína (a miostatina) que restringe o crescimento muscular nos humanos. Afinal, não eram só os animais como o Belgian Blue – uma raça de gado bovino –, que sofriam dessa bizarra mas curiosa mutação.
A descoberta abriu caminho à investigação de terapias capazes de “silenciar” a proteína nos humanos e deixar que os músculos se tornem robustos. O objetivo é ajudar quem sofre de distrofia muscular, uma das doenças genéticas mais comuns no mundo, ou seja, com potencial para gerar grandes lucros à indústria farmacêutica. Só que os primeiros a mostrarem-se interessados num possível medicamento para humanos foram os atletas de alta competição mais “impacientes”. Outra dor de cabeça para quem combate o doping no esporte.
Mas será que pode surgir uma mutação que nos permita viver para sempre? Acontece que ela já foi descoberta em 2008, não em humanos… mas num verme – mais precisamente, no C. elegans (Caenorhabditis elegans). Alguns espécimes mutantes da criatura em causa estão dotados de um programa genético que permite a todas as suas células viver mais tempo e resistir melhor ao estresse. Compreender, na totalidade, como funciona este processo será meio caminho para obter o tão desejado Elixir da Eterna Juventude.
O fim da raça humana?
Será que caminhamos para um futuro em que seremos feitos de fios, chapa e silício? Eis que, bem ao gosto da ficção científica, os ciborgues (humanos com partes orgânicas e mecânicas, ou melhor dizendo, organismos cibernéticos) começam a invadir o mundo real.
Em 2009 foram inseridos microchips no cérebro de um macaco, o que lhe possibilitou manobrar um braço artificial para se alimentar. O próximo passo da equipe que fez a experiência consiste em usar implantes semelhantes que permitam às pessoas falar por meio de um computador. Um dia, comunicar-se com a ajuda da boca poderá ficar fora de moda.
Entretanto, os militares já se renderam às potencialidades de um homem-máquina. Uma das experiências mais promissoras é um esqueleto artificial externo ao corpo – um exoesqueleto –, que permite a qualquer pessoa manobrar potentes músculos robóticos. Os primeiros protótipos surgiram com o objetivo de carregar grandes pesos em terrenos irregulares, mas já se pensa em criar supersoldados capazes de enfrentar com músculos de aço as tropas inimigas, bem ao jeito do mítico herói da Marvel, o Iron Man.
Verdadeiramente revolucionário foi o cientista britânico Kevin Warwick, que em 2002 deixou uma equipe de cirurgiões ligar os nervos do seu braço a um computador conectado à Internet. Como resultado, enquanto estava em Nova Iorque conseguiu mexer uma mão robótica que se encontrava a cinco mil quilômetros de distância, no Reino Unido. Tal como o próprio afirmou, “o corpo estendeu-se efetivamente pela internet”. Um cenário digno de fazer parte do filme The Matrix.
O problema com todos estes cenários é que muitos cientistas estão prevendo o desaparecimento das características que nos definem como humanos. Seria o fim da nossa espécie, tal como a conhecemos, e o nascer de uma outra. No entanto, há que ver o lado positivo. Segundo alguns investigadores da NASA, daqui a milhares de milhões de anos, quando a Terra se tornar inóspita e o Sol estiver morrendo, a solução para não acabarmos extintos como os dinossauros estará na nossa transmutação em organismos cibernéticos. Deste modo, conseguiremos viajar pelas estrelas e sobreviver nos lugares mais remotos e hostis do Universo.
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(Artigo publicado em Obvious por João Lobato, em 20 out 2010; foto da internet)
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