Não é de hoje que se discute se o aquecimento global é motivado pelo cíclico e natural aquecimento do Planeta ou pelos séculos de emissões de gases poluentes na atmosfera. O embate entre as duas linhas de raciocínio formou dois grupos de cientistas e ambientalistas, cada um puxando a sardinha para suas hipóteses e explicações. Mas enquanto eles não decidem, até porque o mais provável é que a causa seja uma soma dos dois fatores, sofremos ou vemos os outros sofrerem com as mudanças climáticas que esmurram nossas portas.
Lembro-me perfeitamente do clima de Teresópolis (cidade serrana no Rio de Janeiro) quando era menino e passava as férias de verão em nossa casa. Todos os dias tínhamos um lindo sol e céu azul até umas três horas da tarde, quando entrava a serração e a chuva de convecção desabava. Após um par de horas de água abundante, muitas vezes acompanhada de raios e trovões, com o característico cheiro de mato quente molhado, o céu limpo e azul fechava o dia com chave de ouro. A noite de céu estrelado e o friozinho da serra eram sempre companheiros garantidos. O tom saudosista é proposital, pois já não temos esse clima maravilhoso há anos. Ventilador e ar-condicionado em Teresópolis, impensáveis naquela época, hoje são itens obrigatórios no verão.
Em meados desse mês de dezembro, enquanto tínhamos, no Rio, dias amazônicos (quentes, úmidos e abafados), li uma matéria dizendo que São Paulo perdeu o título de “Terra da Garoa”, pois a típica garoa já não há mais. Pudemos também presenciar a prova viva das mudanças bruscas de temperatura que vêm ocorrendo nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Dias com temperaturas entre 30 e 40 ºC viam os termômetros caírem bruscamente para menos de 20 ºC. Chuvas torrenciais, fora de época, desabando e castigando cidades em todos os cantos do Planeta. Até tornados já temos por aqui. Nevascas recordes na Europa e nos EUA, incluindo a Flórida. Ou seja, deu a louca no tempo.
Será que podemos fazer algo? Normalmente pensamos que muito pouco ou quase nada do que fizermos trará resultados práticos. Isso não deixa de ser verdade, mas é uma meia verdade. O grande problema está na questão abordada no primeiro parágrafo desse artigo. Ainda que exista margem de discussão, já está comprovado que os gases poluentes de efeito estufa contribuem consideravelmente para o aquecimento global do Planeta. E de onde vêm esses gases? Vêm das extrações de matéria-prima, da queima de combustíveis fósseis dos nossos próprios deslocamentos, das produções das fábricas e indústrias e da distribuição de todas as coisas que nos abrigam, nos confortam, nos alegram e nos alimentam. Tudo isso é intrínseco ao bem-estar e ao funcionamento das economias mundiais.
Nesse sentido, as grandes nações, mais ou menos poluidoras, o que inclui China, Índia, Japão, Rússia, EUA, Comunidade Europeia e até mesmo o Brasil, como vemos em todas as Cúpulas do Clima, e não foi diferente na última, realizada no início de dezembro desse ano (2010) em Cancún, no México, não estão dispostas a cortar suas emissões se para isso tiverem que reduzir seu consumo de recursos naturais e bens materiais. E não é diferente com as pessoas que vivem nesses países.
Apesar de sabermos que o Planeta e seus recursos são finitos e nos sensibilizarmos com as questões de sustentabilidade, continuamos consumindo e jogando fora. Consumindo e jogando fora. (A repetição é proposital.)
Pode não ser muito, ou não o suficiente, mas felizmente há pessoas e entidades trabalhando para salvar ecossistemas (e animais), para produzir energias e processos mais limpos e para incentivar o consumo consciente, a redução do desperdício, a reciclagem e o reuso. Ou para simplesmente educar.
Junte-se a eles e acredite: podemos fazer algo em favor da Preservação da Natureza. Não fique parado. Envolva-se em 2011.
(*) Marcelo Szpilman é Biólogo Marinho formado pela UFRJ, com Pós-Graduação Executiva em Meio Ambiente (MBE) pela COPPE/UFRJé diretor e diretor do Instituto Ecológico Aqualung (http://www.institutoaqualung.com.br/)
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