Coluna de Juremir Machado da Silva no Correio do Povo, de Porto Alegre
Há uma corrente antropológica internacional que garante: o ser humano nasceu com tendência para mamar. É uma inclinação instintiva. Pode ser atenuada com o passar do tempo. Em alguns casos, porém, acontece o contrário. Especialmente no caso dos políticos. Pesquisadores americanos estariam próximos de isolar o gene do político. As características desse gene seriam as mesmas dos mamíferos. Isso explicaria, por exemplo, a predileção dos americanos por seios volumosos, não importando se naturais ou siliconados. Os países mais desenvolvidos descobriram há tempos que a cultura é sempre artificial, um acréscimo humano ao natural. O que explica, então, a preferência brasileira pela retaguarda? Uma hipótese é a de que seja uma simples dissimulação. O importante mesmo é chegar ao topo e daí não sair mais. Vejamos melhor.
A governadora Yeda Crusius ficou quatro anos no comando do Rio Grande do Sul. Alguns acham que foi muito pouco. A maioria dos gaúchos, porém, resolveu que era tempo demais. Mandaram-na de volta para casa. Ela garante que deixou o déficit zero como herança. Os novos governantes afirmam que nesse déficit há zero de verdade. Por sua obra, contestada ou não, a governadora quer uma recompensa: aposentadoria vitalícia. Ela já entrou com o pedido. Diga-se, a bem da verdade, que ela não está sozinha. A ex-governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), já garantiu a sua teta. Os ex-governadores do Paraná, Roberto Requião (PMDB), e de Santa Catarina, Leonel Pavan (PSDB), também já estão mamando. O Paraná paga R$ 24,5 mil mensais. No Rio de Janeiro, Moreira Franco e Marcelo Alencar já se alimentam desse leitinho gordo há horas. Outros gaúchos também já se beneficiam dessa tetinha.
O paranaense Álvaro Dias e o gaúcho Pedro Simon acordaram tarde. Depois de 20 anos, resolveram pedir o quinhão deles desse latifúndio vacum. Não querem ser chamados de trouxas. A OAB acha esse comportamento tipicamente mamífero uma obscenidade. Não ficaria bem para marmanjos ficar mamando em público ou no úbere público. A turma do biquinho não vê maiores problemas. Tudo o que não é ilegal, como mamar ou sugar, vai bem e engorda. Não são conhecidas muitas atividades no mundo que resultem em aposentadoria vitalícia depois de apenas quatro anos de trabalho. Compreende-se que se trata de tarefa exaustiva, desgastante e até tediosa. Não deve ser fácil receber diariamente integrantes da base aliada em busca de mais e mais cargos. Deve ser duro tentar dividir o bolo de modo a satisfazer o apetite de todo mundo.
Sabe-se que o Estado, desde os seus primórdios, é considerado uma vaca sagrada, mas de tetas profanas. Os camponeses sofrem quando precisam desmamar os bezerros, que chamamos de terneiros, pois os bichinhos demoram a acostumar-se. Mesmo assim, não deixam de fazê-lo. Já com os políticos é mais complicado. Quanto mais alto um político chega, maior a sua dificuldade em soltar a teta. O presidente Lula saiu direto do Planalto para uma mamadinha suplementar numa base militar federal. Os ex-governadores poderiam poupar o Rio Grande do Sul abrindo mão do benefício. Seria uma grande contribuição para o déficit zero. (colaboração de Joel S.J.)
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