Banana, carambola, coco, jaca, manga, fruta-pão, laranja, limão e mexerica, frutas muito populares no Brasil, são originárias do nosso País? Não: foram trazidas do Oriente. Especiarias como a canela, cravo, noz-moscada, as pimentas do reino, dedo-de-moça e malagueta nasceram aqui? Não? Vieram igualmente daquela parte do mundo.
Onde nasceram o aipo, alface, amêndoa, beterraba, figo, couve, maçã, marmelo, melão, pera, pêssego e rabanete? Apesar de terem diferentes procedências, chegaram da Europa. Onde surgiram o abacate, abacaxi, amendoim, amora, batata, baunilha, cacau, caju, girassol, goiaba, mandioca, mandioquinha, maracujá, papaia e tomate? Esses produtos, sim, são da América.
Quem promoveu o vaivém das plantas universais? Os navegadores lusitanos dos séculos 16 e 17, pioneiros da globalização. A proeza está documentada no livro de José Eduardo Mendes Ferrão A Aventura das Plantas ? e os Descobrimentos Portugueses (Instituto de Investigação Científica Tropical/Fundação Berardo/Chaves Ferreira Publicações, Lisboa, 2005). Não se trata de uma novidade editorial, mas parece ser. É um daqueles livros dos quais muitos falam, mas poucos leram. Engenheiro-agrônomo lusitano, pesquisador científico conceituado, Mendes Ferrão dividiu A Aventura das Plantas em quatro capítulos: Plantas Idas do Reino, Plantas de Origem Americana, Plantas Originárias do Oriente e Plantas Originárias da África.
O troca-troca português começou com a viagem de Vasco da Gama à Índia, de 1498, que mudou a história da navegação, abriu rotas comerciais e culturais e acelerou a chegada do mundo moderno. Não por acaso, a expedição se interessava pelas especiarias no Oriente, a começar pela pimenta, preciosidade na época. Todos os exploradores lusitanos se inspiraram em Vasco da Gama, inclusive Pedro Álvares Cabral, o descobridor do Brasil.
Encantados com as novas terras, os navegadores descreveram em crônicas ou cartas pormenorizadas as coisas que lhes chamavam a atenção. Na viagem de volta, carregavam produtos representativos dos lugares encontrados: ocasionalmente nativos, objetos de adorno, sementes, mudas de plantas e frutas, cujas utilidades alimentícias ou medicinais se pesquisava em Portugal. O primeiro trabalho era procurar adaptá-las às condições ecológicas europeias ou, então, à natureza das Ilhas da Madeira e de Porto Santo e do Arquipélago de Cabo Verde. Esses territórios ultramarinos viraram laboratórios de experiências botânicas e agrícolas.
As plantas que vingavam e se mostravam produtivas eram testadas adiante. O autor anônimo de Navigation de Lisbonne à l"Ile de São Tomé par un Pilote Portugais Anonyme, raridade guardada no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, relata uma viagem a Cabo Verde ocorrida talvez em 1545, na qual encontrou laranjeiras, cidras, limoeiros, romeiras e figos "de boa qualidade", de origem lusitana, e "palmeiras que dão coco", trazidas do Oriente.
Obviamente, os portugueses também difundiram as plantas descobertas pelos espanhóis e vice-versa. Mendes Ferrão diz que, em alguns casos, os dois povos ibéricos as conheceram "na mesma época e as difundiram por igual, tornando-se (...) difícil atribuir a prioridade". Um exemplo foi o milho. Os portugueses o encontraram no Brasil em 1500. Os espanhóis, na América Central. O agrônomo Fábio de Oliveira Freitas, da Embrapa, mostrou que nossos índios podem ter aprendido a arte do seu cultivo diretamente com os colegas agricultores da América Central, e não com as populações dos Andes, como se imaginava. Entretanto, os portugueses foram buscar em Sevilha, na Espanha, o milho que introduziram na África, onde o difundiram com o nome de "grão português". Quase todas as plantas espalhadas por eles criaram raízes e hoje dão a impressão de que sempre existiram nas terras de introdução. Pede briga com o Brasil quem disser que banana, carambola, coco, jaca, manga, fruta-pão, laranja, limão e mexerica não são frutas nossas.(colaboração de Rogério A.R.)
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