terça-feira, 12 de julho de 2011

Eli Pariser: tenha cuidado com os filtros online

Você já notou que o resultado da pesquisa no Google feita em seu computador para uma palavra ou assunto não é exatamente o mesmo alcançado no computador de seu colega sentado ao lado, no mesmo momento para a mesma palavra ou assunto? E até pode ser bem diferente? Separe dez minutos do seu tempo e saiba porque isso acontece ouvindo a palestra de Eli Pariser sobre a bolha-filtro. Depois de ouvi-la, o Google - Yahoo, Facebook etc - não serão mais os mesmos para você.


À medida em que empresas da Web se esforçam para fornecer serviços sob medida para nossos gostos pessoais (incluindo notícias e resultados de pesquisa), acontece uma perigosa e não intencional consequência: Caímos na cilada da "bolha-filtro" e não somos expostos à informações que poderiam desafiar ou ampliar nossa visão de mundo. Eli Pariser argumenta vigorosamente que isto, definitivamente, mostrar-se-á ruim para nós e para a democracia.

Em maio deste ano, o ex-programador de computadores e atual ativista e cientista político lançou seu primeiro livro, The Filter Bubble: What The Internet is Hiding From You (“A bolha-filtro: O que a internet está escondendo de você”).

Sobre o tema do livro, assista a uma palestra - em inglês, com legendas em português - de Pariser no TED (Technology, Entertainment, Design). Para ver, clique ► AQUI ◄ Abaixo, crítica de Milly Lacombe no portal IG.

Como o Google pode nos tornar idiotas
Milly Lacombe é jornalista e escritora, tem quatro livros publicados e colabora para várias publicações. Morou sete anos em Los Angeles, de onde contava principalmente histórias sobre cinema e Hollywood

Em The Filter Bubble: What The Internet is Hiding From You, Pariser tenta mostrar como as search engines (Google e Yahoo! e até Facebook) estão filtrando informações que julgam ser irrelevantes para cada um de nós, baseados em nossos hábitos de busca. Ou, como ele coloca, “editando, de forma invisível e algorítimica, a internet”.

O problema, diz o autor, é que, quando isso acontece, deixamos de ser expostos a ideias contrárias, a opiniões que possam divergir das nossas, e vamos sendo jogados na direção daqueles que se parecem, filosoficamente e idealisticamente, com cada um de nós. O exemplo disso é simples: se você e eu dermos um
Google na palavra Jesus, os resultados da busca serão essencialmente diferentes em nossas páginas.

É mais ou menos assim: com base em minhas buscas passadas, os “robôs” talvez já tenham entendido que sou agnóstica e vão me mandar apenas os resultados que julgam ser mais pertinentes e interessantes. Enquanto, por exemplo, minha amiga católica, fazendo a mesma busca, vai receber páginas bastante diferentes das minhas.

Uma das temeridades dessa “edição” é que não ficamos sabendo o que deixou de ser mostrado. Para indicar o caminho que a informação parece estar tomando, Pariser diz que o Yahoo News, um dos maiores sites de notícias do mundo, é agora personalizado. É como se estivéssemos trocando de Big Brother: saindo do poder dos grandes grupos de mídia e caindo nas garras dos “robôs” da internet. Trata-se de um pensamento que me apavora especialmente porque não vejo outra forma de maturidade intelectual que não seja a de nos expor a ideias e pensamentos contrários aos nossos. E a internet, ao contrário de qualquer outro meio de comunicação, vinha com a promessa de conseguir fazer isso. Mas quando a rede se organiza de forma a nos mimar com informações, ideias e reflexões rigorosamente parecidas com as nossas, além de perdermos a chance de encontrar contrários, podemos mergulhar na vã e perigosa ilusão de que nossa forma de pensar é predominante.

O livro de Pariser está fazendo algum barulho aqui pela Europa. E essa é a boa notícia. Outra boa notícia é a palestra acima, dada por Pariser a respeito de seu livro. Infelizmente, ainda não há prazo para o lançamento do livro no Brasil. (Colaboração de Catarina S.P.)

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