Marcelo Migliaccio, em 7 de julho de 2011
É, meus caros, os grandes jornais nos dão diariamente mostras de que nem todos são iguais perante ãs suas leis. Vamos observar dois exemplos, dividindo os protagonistas das notícias em duas categorias: amigo e inimigo dos barões da mídia.
Caso 1 (o amigo)
Governador é flagrado em relações íntimas com empresários contemplados com vultosos contratos de obras públicas, inclusive no estado que governa. Por consequência de um trágico acidente aéreo, descobriu-se que os empresários colocam helicópteros e jatinhos à disposição do político para levá-lo a períodos de lazer em resorts frequentados pela classe AA. Como se isso não bastasse, alguns desses empresários servem, eles próprios, de pilotos para transportar o governador amigo.
A imprensa, constrangida pela crueza dos fatos expostos no infortúnio da queda de uma aeronave, é obrigada a noticiar.
E eis que o governador amigo, também constrangido, anuncia medidas para coibir práticas como aquela em que ele foi flagrado. Institui duas comissões, cuja primeira determinação é de que o agente público só poderá receber “brindes” no valor máximo de R$ 400,00 (quanto será que custa uma viagem de helicóptero?).
Então, acontece a mágica: com o governador posando de moralizador, o noticiário esquece as tais relações promíscuas com os beneficiários do dinheiro público. Em vez de fuçar, a imprensa amiga tira o caso de suas manchetes sem o menor pudor.
Caso 2 (o inimigo)
Um ministro de um governo demonizado incessantemente pela mídia é flagrado sob suspeita de alta corrupção. A imprensa, sem constrangimento algum, cai de pau em cima. Todos os jornais co-irmãos reverberam a denúncia pelos quatro cantos do país. Editores colocam facas no pescoço de seus repórteres para que descubram mais falcatruas.
O governo, constrangido, promete apurar, anuncia sindicância, acena com reforma do ministério. Mas isso não acalma nossos bravos bastiões da moralidade.
E aí vem a diferença: a imprensa não abandona a história, continua escarafunchando, chega ao filho do ministro, descobre que sua empresa cresceu 86 mil por cento em um ano. O governo inimigo está nas cordas, como ficou o governador amigo, mas agora o oponente não para de bater. Poupou o outro, mas esse não. Vão espremer a laranja podre até que lhe caia o último pingo.
E assim, dividida entre amigos e inimigos, trabalha a nossa vigilante imprensa denuncista.
Marcelo Migliaccio é editor do Jornal do Brasil online
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